8 de set. de 2009

A CRISE DE SER


Crise que mergulha
Não orgulha
Espera surgir a fagulha
Um instante distante
Um canto ofegante
Só a dor lhe maltrata
No peito
Sem respeito
Não deixa que a paz aconteça
E permaneça
Mas a luta
Que outrora enlutou
Ficou num passado
E agora aflorou
Numa dança de ser
De querer
De viver.

FILHOS



Se somos arcos
Deveras fracos
Até tentamos impulsionar
A direção é que doeu
Como impulsionar um filho meu
Para um universo inimaginável
Nada afável
Vemos a flecha caindo
Porque não tomou o rumo certo
Por acaso o vento?
Não estava atento.
Tudo é desculpa
Não queremos ter a culpa!
Mas mudou a direção
Eis toda uma vida no chão
Sonhamos em vão!
Toda esperança desmorona
Quando a verdade vem à tona
Decepção!
Frustração!
Só a Deus peço perdão
O sonho foi em vão!

CORAÇÃO VASIO, CORAÇÃO VASADO


Descobri que a vida tem garras
Que agarram e ferem
Com o corpo lanhado
Todo machucado
Choras porque dói
A arranhadura ... já sabes...
Mais tarde, mais cedo, no mesmo dia...
Tudo se revela e confirma.
Perguntas... Porque não se fez livre de tudo antes?
Porque esta espera tão angustiante?
Já sofrias, já sabias.
Isto iria acontecer, podes crer.
Os dias assim vão se passando
A dor aos poucos aumentando
O coração quase para de bater
Provocando o teu desfalecer
Dentro do peito grita a Clava forte,
Querendo a vida e não a morte
Precisas reviver
Precisas crer
Não há mais luz no teu caminho
Desaqueceu o teu ninho
Puxaram o tapete do teu chão
Sonhos lindos foram tudo em vão
Agora, resta fugir da solidão

PAISAGEM


Singela rua com casinhas brancas
Jardins e flores de imensa cor
Caminha uma alma franca
Ansiando dizer coisas de amor

Uma tarde com céu azul cobalto
Contrastando com o negro do asfalto
Agitando um coração que grita alto
Soltando amarras como num salto

Quantas cores á ribalta
É este amor que sonhas
Será que está em pauta
O amor que te arrebata

Mirtes Carvalho
25/06/2009

UM LINDO MENINO TRISTE


Gerado entre chips e abandonado por sites

- Amor, venha dormir, saia pelo menos um pouco do computador... Nós gostamos de navegar pela internet, mas... como realizar nosso sonho, de ter um filho? Um filho nosso, de nosso amor...
Entre um site e um e-mail sobrou um tempinho e nasceu um lindo bebê. Tinha um problema de má formação do esôfago. A mãe revoltada. Tinha que sair do computador para ficar com ele na UTI.
Mãe, o sucesso da cura depende muito do seu leite, de sua presença e carinho – Dizia o médico. Quando era a única pessoa que tinha que ficar ao lado do seu bebê na UTI, sem avisar para alguém substituir. PRIMEIRO ABANDONO.
Ele mesmo assim, com o amor dos pais e avós, começa sua luta pela vida.
Remédios, cortisona, torna-o um bebê pesado; a sua mãe não o põe no colo e ele chora...
Algum tempo depois, já começando a andar, ela o segurava pelos bracinhos. Ele chorava e se agitava tanto, que deslocou as clavículas. Sua alegria, era junto com a mãe e os bisavós paternos, brincar com os priminhos.
A mãe continuava na sua indiferença e rejeição àquela criaturinha indefesa. Sequer mudava as fraldas do bebê para não perder nenhum minuto de internet. Navegava 24h por dia.
Dia e noite o bebê jogado pelos cantos, implorando uma atenção da mãe. A única coisa que ele conseguia e ela permitia, era ele ficar grudado nas pernas enquanto ela deliciava-se em bate-papos incríveis.
O pai fica desempregado. Vão morar com os avós. Ela sequer sai do quarto. A conta do telefone do avô chega a cinco salários mínimos só para ela navegar.
Morrem os avós.
No dia de Natal, que além da festa tradicional, ela comemoraria seu aniversário. Sem dar explicações, pega a mala e embarca para o nordeste sem sequer se despedir do filho. SEGUNDO ABANDONO
O bebê já tinha então quatro anos quando foi abandonado pela segunda vez pela mãe.
A avó materna vê o filho de quase dois metros de altura, desolado, sem ter onde viver, comer, morar... Da família sonhada restava apenas este pai e seu bebê. Estava arrasado.
Foram acolhidos pela avó/mãe que cuidou do pai e filho. Com esforço conseguiu dar esperança, emprego, saúde, trabalho e amor àquele menininho tão abandonado. Em Setembro, aniversário do bebê, o Pai conseguiu falar com a mãe, pedindo para ela vir visitar o filho. Ele pagaria a passagem e dava 4.000,00 cruzeiros. Tinha recebido parte do inventário. A avó fez a festinha na creche. A mãe veio e foi na festinha. O bebê só chorava muito. Acabando a festinha o pai pediu para a mãe ficar um pouco... o bebê olhava para mãe com os olhinhos cheios de lágrimas pedindo amor, mas a indiferença dela era grande. Pegou o dinheiro prometido e foi dar uma voltinha pela praça com o bebê, por uma hora. Devolveu a criança e se foi sem qualquer emoção, para o nordeste. TERCEIRO ABANDONO
O pai queria recomeçar a vida. Conheceu alguém pela internet que o convidou para viverem juntos. A moça morava só, em S. Paulo; ele e o filho, seriam uma boa companhia. Quando ele pensava estar tudo maravilhoso, ela conversou com ele dizendo que o adorava, mas, uma criança, era demais. Ela queria ter os dela. “–Se conseguir se livrar da criança, estaremos numa boa”. Desesperado o pai tentou deixar a criança com uma tia por parte de mãe. QUARTO ABANDONO
O pai não agüentou deixar o filho e voltou para apanhá-lo; Nunca mais o largou um instante sequer. Mais uma vez o pai arrumou uma moça pela internet. Foram morar juntos. Ela tentou educar, conviver como uma família. Não conseguiu amá-lo, mesmo morando anos juntos. Acabaram se separando.
Hoje, um quase rapaz de 14 anos, tornou-se um “expert” em computador. Fica dias navegando. Jogando para ser dono do jogo e poder lutar, batalhar e salvar a vida de seu herói ... a sua vida!
Nas férias ele costuma passar uma ou duas semanas com a mãe. Apesar de gostar dela não se sente bem em estar junto com ela. Vai porque o pai obriga.
Ainda resta o amor de seu Pai, de seu cachorrinho vira-lata, seus tios e sua avó.
Assim é a vida deste lindo menino triste internauta.

INSEGURANÇAS

Achar um amor formal
No mundo atual
Nem virtual
O céu clareia neste instante
A lua ilumina o amante.
O rico, o pobre, o viajante
Até o coração do “ficante”
Enternece o apaixonado
Sufoca o desastrado
Afaga o ser amado
É preciso ter paz
E decifrar o lamento do coração
Pura emoção
Que mensagens trás...
Mergulhar nas inseguranças
Trazer desesperanças
É preciso ter paz
Ou quem sabe... nunca mais!!!

v – SAGA DE VALDEREZ E SUAS QUATRO IRMÃS ...8


Rio de Janeiro, 12 de Janeiro de 2009
Botafogo – 2ª Segunda feira do mês: Reunião dos Irmãos.

A partir do falecimento dos pais, os Irmãos sentiram a necessidade de um encontro familiar para fortalecer a amizade que sempre existira. No dia 23 de maio, reuniram-se à convite de Lourinha, para comemorar com ela seu aniversário. Havia acabado de se aposentar e estava vindo em definitivo morar no Rio. Há muito trabalhava e residia em Brasília. Todos os irmãos concordaram em fazer uma reunião mensal. O motivo era muito forte, não deixar que
OS LAÇOS FAMILIARES, “( A UNIÃO FUNDAMENTADA DURANTE TODA UMA VIDA )” NÃO PODERIA DESAPARECER.

- Lourinha, cadê sua taça de vinho? Diz Valderez
- Bibi, erga sua taça e vamos brindar mais um ano de Harmonia e União Familiar.
- Inha, mesmo que você não queira beber, vamos brindar e dê só um golinho para selar nossa Irmandade, diz Val.

Assim começava mais uma reunião. Os irmãos que puderam vir estavam reunidos. Meguinha a 5ª irmã havia acabado de mudar para o interior do Estado, não pode comparecer. Atram é a última das meninas e mora no interior de São Paulo. Junior o primeiro e tão esperado filho homem, havia mudado para N. York, logo após a morte da mãe.
Ele ficou muito abatido e escreveu no velório uma carta para Ela. Carta esta que foi lida pelo padre na Missa de 7º Dia, como descrevo a seguir:

Hoje a mamãe foi embora, ainda não dá para acreditar, ainda não dá pra aceitar, mas ela foi embora. A única mulher que, neste mundo, daria incondicionalmente sua vida pela nossa, que nos aceitava também sem restrições, fossemos maus ou bons, preguiçosos, covardes ou valentes, tínhamos nela um porto seguro com águas calmas.
Fomos presenteados pela graça de Deus por sermos escolhidos para vir ao mundo como seus filhos. Nós éramos sua vaidade, sua alegria, sua esperança, sua aflição. Naquela pequenina criatura, existia um amor tão imenso que sobrava sempre para todos e para nossos filhos e até para os filhos de nossos filhos. Seu sorriso de luz estava sempre nos esperando com um largo abraço e muito carinho, pois se não tivemos riqueza ou muitas posses materiais, não fomos esquecidos por Deus que nos deu este tesouro.
Ela conseguia coisas impossíveis, mesmo sem ter nenhum conhecimento. Em companhia da graça de Deus e dos anjos, pedia e conseguia. Sabia de cada dia de nossas vidas, e esquecendo-se dela, pedia por nós. Sabia de cada dia de nossas vidas, e esquecendo-se dela, pedia por nós.
Sabia sorrir e agradecer a Deus cada vez que o mundo lhe virava as costas. Tanto tempo precisando dela o tempo todo e só Deus lembrou que ela precisava descansar. Deu-lhe a mão e a guiou para um lugar de muita luz, aonde ela não sofrerá mais, aonde receberá de Nosso Pai celestial o descanso eterno.
Então paramos para pensar e não entendemos: Porque sofreu tanto antes de partir?
Se procurarmos a verdade encontraremos somente uma resposta: “Não era ela que estava sofrendo e sim nós por não tê-la merecido plenamente, nem termos retribuído o que dela recebemos.”
Precisamos rezar como ela nos ensinou, e ter muita fé em Deus, e pedir a Ele que ao encontrar uma senhora pequenininha, ainda preocupada com seus filhos aqui na terra e um pouco confusa com tudo isto que hoje aconteceu, que a acolha como ela merece, e que perdoe nossos pecados para que voltemos a vê-la nos esperando com um grande sorriso lá no céu, e ao abraçá-la pela graça de Deus não nos separemos nunca mais.
Até um dia mamãe, reze por nós. Amém.

Pouco depois em N York, angustiado de saudades da família, enfartou e faleceu aos 45 anos.
Hoje suas cinzas e de seus pais estão no subsolo da Catedral do Rio de Janeiro na Av. Chile – Centro.

O irmão menor “Azul” só pode ir a poucas reuniões, foi morar no interior do estado.
Para que o ELO continue, estas reuniões são fotografadas e enviadas para todos com um resumo de tudo. Agora estão estudando um meio para que todos possam participar por vídeo conferencia no MSN. È a informática chegando para Valderez.
Há muita história para contar.
Como cada um chegou até aqui?
... Do castigo de Madre Elvira até o acesso ao mundo pela internet...
Aguardem!

IV – SAGA DE VALDEREZ E SUAS QUATRO IRMÃES



4ª PARTE - Castigo e Festa de Páscoa
O sol ardia lá fora. Algazarra das crianças no recreio.
Valderez ajoelhada embaixo da mesa... a p a v o r a d a !!!
Pensava: - Se Madre Elvira descobre, que irá acontecer?
Coração parecia que ia sair pela boca. A Freira andou para lá e para cá... Parou bem onde ela estava.
- Que você está fazendo aí Valderez? Já de pé aqui na minha frente.
O peixinho de chocolate derretia na mão, ela tremia, tentava camuflar amassando na mão. Valderez, de cabeça baixa, enquanto a Freira pergunta:
- Que estava fazendo aqui, se sabe ser proibido entrar no refeitório fora do horário de refeições?
As lágrimas rolavam pela face...
- É que estava brincando de esconder e corri pra cá; para ninguém me achar...
- Pois bem, vá apanhar o banquinho na cozinha e pegue um punhado de milho.
Enquanto caminhava via os olhinhos das crianças espreitando nas janelas. A Freira para mostrar para todos o que acontecia quando desobedeciam... incrementa ainda mais o castigo:
- Coloque o banquinho na quina da parede atravessado. Ponha o punhado de milho encima. Agora ajoelhe encima do milho. Está no canto para você não se encostar na parede, nem repousar a cabeça, ficará assim por uma hora, enquanto durar o recreio. Hoje não tem direito a lanche. No recreio vai escrever 200 vezes a frase: “QUEM NÃO QUER OUVIR DEVE SENTIR “, hoje na hora do lanche, numa folha dupla de papel almaço .
Valderez ficou só no refeitório e começou a chorar. Pensava: Tenho que arrumar outra forma para ter uns docinhos para Bibi. Doía muito os joelhos, não estava agüentando...
- Nossa Senhora do Perpétuo Socorro protetora da minha família... me ajuda!!!
Acabou o recreio, acabou o castigo ajoelhado no milho. Começou escrever 200 vezes : “Quem não quer ouvir deve sentir”. Para aliviar o castigo, resolveu pegar duas canetas e amarrar com um palito em cada lado. Ia escrevendo de duas em duas linhas. Como deu certo, no recreio conseguiu um pauzinho maior e acoplou quatro canetas. À partir daí, Valderez ficou dona do invento e quando alguma criança da turma tinha que escrever de castigo a caneta que escondida era emprestada como arma secreta de defesa.
Depois de tudo só restava uma solução: Valderez não comer sobremesa. Depois tomou coragem e foi falar com as colegas de internato que tinham merenda particular. Ela não tinha dinheiro. Não podia comprar, nem pedir às meninas do externato para trazer. Duas alunas se comprometeram a ajudar. Quando fosse pegar, sempre pegaria mais um pouquinho para a Bibi. Assim ficou resolvido aquele problema.
Já estavam em Março, quando Madre Elvira avisou que todas deveriam escrever uma carta para os pais. Valderez vibrou. Correu para a sala depois do recreio e fez uma carta enorme. Contando dos problemas das aflições passadas por elas e tudo mais. Ficou feliz. Quando acabou a carta, botou no envelope e fechou.
Madre pegou disse:
- Não tinha que fechar a carta. Tenho que ler antes para ver a letra e se esta tudo certo.
Tudo se resumiu em três linhas que foi obrigada a escrever:.
Papai, peço sua benção.
O Colégio é muito bom. Estamos com saúde. Todas as irmãs estão bem.
Estamos estudando e nos alimentando normalmente.
Beijos na minha irmãzinha Meg, Mamãe, Vovó e tias.
Benção, Valderez
E assim foi feito. Daí em diante, todo mês era a mesma coisa.
No refeitório uma semana antes da Semana Santa, Madre Elvira falou:
- “VAMOS COMEÇAR OS PREPARATIVOS PARA A MAIOR FESTA DO NOSSO COLÉGIO QUE É A FESTA DA PÁSCOA. À PARTIR DE HOJE VAMOS COMEÇAR OS PREPARATIVOS.”
Euforia geral. Como seria esta festa? As crianças corriam de um canto a outro na maior alegria. Madre Elvira mandou todas ficarem em fila e foram conhecer a criação de Coelhos. Lindos! Os olhinhos vermelhos, o nariz tremendo... fofinhos! A freira pegou um para passarmos as mãos.
Ela falou:
- Eles trarão ovinhos de chocolate no dia de páscoa para todas que se comportarem, estudarem, obedecerem. Ficaram radiantes de alegria.
Só houve um momento de tristeza quando chegou a carta do pai dizendo:
Cara Filha, Deus a abençoe.
Gostei de saber que estão muito bem.
Como o feriado é só uma semana, não vou poder ir nem mandar apanhar vocês. Espero que continuem se adaptando bem.
Recomendações de todos.
Receba a benção de seu Pai
Valderez nem falou para as irmãs. Iria quebrar a alegria da festa.
No recreio íamos cada uma com uma cestinha seguindo o grupo.
Outros grupos iam colhendo folhas de mangueira. Voltando ao refeitório começavam a fazer os cordões. Pegar a folha, juntar as extremidades, prender com um espinho da macaúba. A próxima folha já era fechada passando por dentro da outra. Assim, ia sendo formada a corrente. Fazer com a folha verde para não quebrar. As correntes iam sendo formadas e arrumadas num canto do refeitório para na véspera ser colocadas no teto.
Bolas de papel amassado, cobertas com papel crepon e amarradas nas correntes.
A maioria das alunas foi para casa. Quem ficou arrumou as correntes no teto com ajudas das freiras. Ficou lindo! Os pequeninos cansavam os olhos de tanto olhar para cima. Alegria!
Será que os coelhinhos irão fazer os ovos?
Dia de páscoa! Acordaram na maior expectativa. Foram a missa. Após, refeitório. Muitos bolos e doces. As crianças perguntaram: Cadê os ovos do coelho? A Freira explicou: Eles vieram pela madrugada, enquanto vocês dormiam e esconderam pelo jardim. Quando tocar o sino, podem procurar
Assim foi uma algazarra só. Todas corriam e procuravam. Tinham ovos cosidos pintados. Outros eram ovos de galinha recheados de Chocolate. Muitos bombons, balas. Chocolates.
Assim ficaram todas felizes festejando a Páscoa.

III - A SAGA DE VALDERÊZ E SUAS QUATRO IRMÃS


3 - Rotina escolar e compensando a sobremesa proibida

Seis horas da manhã... Todas as alunas para a Capela. Hora de assistir a missa e depois café da manhã.
Refeitório. Cada um tem seu lugar certo. Em cada lugar uma caneca e um prato com pão de sal e mel de abelha ( no lugar da manteiga) e uma banana. O café com leite era servido de acordo com o gosto de cada uma. Rezavam antes da comida e tomavam café em silencio – para treinar o princípio que não se deve falar de boca cheia.
Em seguida um pequeno recreio.
Pegar o material escolar e permanecer em fila, até encaminhar para sala de aulas. As aulas eram dadas junto com as alunas do externato mas era proibido falar com elas.
Acaba as aulas, guardar o material e almoçar.
Começa mais um problema.
A comida completamente diferente.
Todos eram obrigada a comer tudo. A freira colocava a comida em cada prato, de acordo com o tamanho da criança.
Feijão era com milho. Quem não estava acostumado, dava impressão de comida para porcos. O estômago dava um nó. O arroz, legumes e carne.
Quem comesse tudo e não estivesse de castigo, tinha sobremesa. Os doces eram muito gostosos as crianças brigavam para come-los . Eram servidos também sorvetes ou frutas um a cada dia. Bibi nunca tinha direito de comer a sobremesa . (Não dava para ficar sem molhar o colchão a noite).
Outro problema: Lourinha não conseguia comer aquele feijão.
Valderez pensava em como e ajudar Lourinha.
Tinha que passar para o seu prato aquele feijão com milho, sem Madre Elvira visse.
Contava para este feito, com o apoio das meninas da cidade e das primas que estudavam lá.
Valderez inevitavelmente tinha que comer dois pratos diariamente.
A sua sobremesa dava, quase sempre para BIBI. –Não fazia muita questão de doce só quando era um sorvete ou musse . Ela não se agüentava e comia, Bibi arregalava os olhinhos e chorava, Valderez pedia para ela ter calma.
Num canto do refeitório havia um armário cheio de sobremesas. As meninas que tinham família morando ali, perto recebiam bolos, doces, rapaduras, puxa=puxa de melado, queijos curado, chocolates (Bering de peixinho, embrulhados um a um ), etc Para resolver o problema da BIBI só tinha uma saída, pegar emprestado um pouquinho de doce, pois era muita coisa. As alunas não tinham permissão de acesso, só na refeição quando a madre autorizava. Faria tudo para pegar um pouquinho para a irmã.
A maioria dos lanches eram devolvido por dois motivos: o primeiro porque não tinham tempo para isso pois ficavam fechados no refeitório, sem acesso dos alunos. Também porque dizia para as famílias ser dispensada aquela sobremesa, pois os alunos tinham no colégio o suficiente para a refeição.
Mas como chegar lá sem ser vista?
O refeitório era fechado para ser limpo enquanto as meninas iam para o recreio.
Valderez pedia para ir ao banheiro. Agachada, seguia até a janela onde do outro lado ficava o armário. A porta do refeitório ficava fechada até o jantar. As janelas do lado da horta ficavam entreabertas para renovar o ar. Era por ali que poderia entrar.
Uma menina tocaiava... quando a Madre Elvira virava de costas, Valderez mergulhava pela janela sem barulho e ir nadando por entre as mesas, até chegar ao armário. Era só abrir e pegar emprestado um pedacinho de alguma coisa para a irmãzinha. Jurava para si que quando fosse para casa traria um montão para por no lugar.
Tudo tinha que ser perfeito, caso contrário... expulsão do colégio.
Valderez escondida, esperava o sinal da Penha ( das meninas da cidade era a mais afoita. Diziam que ela morava na Rua da Mãe. Numa casa bonita, mas lá. As freiras nem sabiam senão dispensavam a Penha. Mas que ela era esperta, era). Valderez confiava nela. Assim foi feito.
Ao sinal, mergulhou... Pegou um pedacinho de doce de leite e um chocolate de peixinho (tinha caixas fechadas).
Consegui! Só resta voltar e levar para a irmãzinha que estava chorando .
De volta, ia nadando por baixo das mesas até chegar perto da janela.
Ufa! Consegui... Neste exato momento, Madre Elvira bota a chave na porta e entra no refeitório.

A SAGA DE VALDERÊZ E SUAS QUATRO IRMÃS II - Chegada ao Colégio Interno apagar


Espanto!
Era um prédio grande, imponente, para aquelas cabecinhas que sempre viveram numa casa com seus pais.
Uma freira toda sorridente abraça e beija a todas. “Inha”, a menor, vai no colo da freira que depois soubemos ser Madre Elvira, chefe do Internato. Valderez vai segurando nas mãos de suas duas irmãs “Lourinha” e “Bibi”. Segura com força pois era a única segurança que ela podia dar. A partir daí a representante da família era ela e teria que proteger aquelas as quais tinha tanto amor. Com 10 anos pela primeira vez, afastadas de quem as protegia , passa a ter a responsabilidade de proteger aquelas irmãs tão indefesas. Inha chorava com seus grandes alhos azuis, copiosamente, no colo da Madre Elvira. Lourinha nervosa, fazia ânsia de vômitos sem parar segurado forte na mão de Valderez . Na outra mão estava Bibi que de tanto medo o xixi escorria pelas perninhas...
Para elas era tudo muito grande, dava medo... o que iria acontecer ? Ali, longe de qualquer parente, a mãe sequer tinha o direito de interferir neste processo de arrancar dela suas crias... É para o bem delas, dizia o Pai.
No lado direito daquele átrio, era o internato. Na parte de baixo, o refeitório enorme com umas 20 mesas para 12 pessoas cada uma. A seguir os chuveiros, os sanitários e a escada larga para subir ao dormitório. O dormitório imenso, onde ficavam as meninas maiores e um menor no final, perto da clausura da Madre Elvira, chefe do internato. Neste menor estavam as camas destinadas a nós – às menores do colégio. Toda turma ficou lá.
Do outro lado do átrio, estava a capela e as salas de aulas. Existia um declive no terreno e aproveitaram para fazer em baixo um salão de estudos para as internas e para a biblioteca.
Os alunos chegavam para as aulas em Março, mas o pai nos mandou as crianças em meados de Janeiro que era para aprender mais (?). De certa forma foi bom para terem mais atenção das freiras e se adaptarem ao colégio e as normas (a disciplina).
Os problemas começaram no dormitório. Inha com 6 aninhos chorava sem parar, Madre Elvira teve que levá-la para a clausura, mesmo porque ninguém conseguia dormir com ela chorando.
Valderez não podia levantar para ver. Era proibido. Cada um só saia da cama para ir ao banheiro. Era longe. As crianças tinham medo. Tudo escuro. Só uma lamparina o santinho.
Quando uma irmã queria ir ao banheiro acordava Valderez para ir com elas. Acontece que nem sempre dava tempo. Bibi dia sim dia não acordava quando já havia feito na cama.
Vergonha. Madre Elvira dava a maior bronca na frente de todo mundo. Pegava o colchão botava na janela para secar e a criança ficava sem a sobremesa no almoço. Bibi chorava e chorava. Valderez resolveu tentar solucionar o problema para evitar que a irmã passasse mais uma vergonha diante das colegas.
Cada cama tinha um criado mudo ao lado com a bacia e a jarra, onde ao acordar, lavavam o rosto e escovavam os dentes. Depois cada uma levava a bacia até os sanitários que ficava perto da escada e da rouparia.
Valderez, no meio da noite quando todos dormiam, pegava a bacia que estava no criado mudo botava no chão e fazia Bibi fazer xixi ali. Não dava para levar e despejar no banheiro porque, se Madre Elvira acordasse ela iria sofrer muito com os castigos. A solução era botar na mesinha a jarra dentro e esperar o amanhecer.
Todos acordavam com um sininho tocando pela freira em todo dormitório. Quem não acordava recebia o som do sino bem pertinho da orelha.
Madre Elvira ficava olhando para saber se todas lavavam o rosto direito e escovava os dentes.
Valderez, naquele dia, encheu a caneca até encima, pôs um pouco de água na bacia. Fingiu que lavava o rosto. Escovou os dentes e respirou fundo. Tudo deu certo. A irmã estava livre da vergonha e não iria perder a sobremesa que ela adorava.
Assim o tempo ia passando até que um dia a Madre Elvira falou: Valderez você não está lavando o rosto direito. Ensaboe as mãos e passe no rosto. A Freira chegou perto para ver e percebeu que a água estava amarela.
Obrigou Valderez lavar o rosto no xixi para aprender a obedecer.
Foi mais um plano por água a baixo. Como salvar minha irmã da vergonha?