AO APAGAR DA CHAMA

O esquecer não é fácil
Ainda mais quando se ama
Tudo se torna frágil
Quando apaga a chama

Mantê-la acesa é preciso
Combustível pra não apagar
Quando tênue e cansada fraqueja
Só o amor pode salvar

Entretanto já não vibra
Quase não pulsa o coração cansado
Por mais que se tenha fibra
Já está tudo acabado

Mirtes Carvalho
18/09/2007

Onde que errei? ...Não sei

Uma confraternização
Senhoras cheias de emoção
Um encontro anual
Amizade, Saudade. Ideal
Tinham em média sessenta e cinco anos
Metade viúva aos trinta e oito anos
Em média três a quatro filhos
Entre cinco e oito netos
A conversa surgiu
Uma pergunta emergiu
Se sozinha trabalhei e criei
Onde então que errei?
A pergunta era geral
E todas se indagavam
Os filhos eram iguais
A todas infernizavam
- Mãe, a casa que você mora
Foi deixada por meu pai
Acho que está na hora
Vender e não esperar mais
Como filho se é aqui que vivo.
Como filho se aqui te criei!
Filho este é um bem que temos
Fui eu que o preservei
Paguei impostos,
Acabei de reformar
Queria ficar aqui
Até a vida acabar
- Mãe metade é nossa
Foi meu pai que comprou
Fique com sua metade
Foi tudo que lhe sobrou
Filho trabalhei muito
Só, cuidei de você
Agora te tornas afoito
Expulsando quem só te quer
Hoje já velha e cansada
Suportando sem falar
Os filhos na minha casa
Querendo me expulsar
Assim falam as mães
Neste encontro anual
Todas sofridas e magoadas
Será um inferno astral?
Que aconteceu com nossos filhos
Gerados e criados com amor
Revoltados, inimigos
Foi tudo o que restou
Onde será que erramos?
Porque não soubemos criar?
Os filhos que amamos
Hoje querem nos exterminar
Amor com amor se paga
Amamos nossos pais
Só queríamos sua felicidade
Cuidamos com muito carinho
E nos deixaram saudades
Esqueceram esta lição
Amor, com amor, não se apaga!
Filhos saem do coração
Demos amor à vida inteira
Não merecemos ingratidão.

OLHOS, CORES E SABORES

Saúdo as cores
Que desnudam as frestas
Dos olhos de amores...
Saúdo as matizes e os odores,
Que desvendam a mira daquilo que crio
Enternecido pelo brilho do olhar
Confessando a quem quer amar
Saúdo a textura que orienta
Magenta, sépia, violeta e fúcsia,
E saúdo a astúcia dos olhos de cio.
Transformando cada nuance
Pelas linhas do pincel macio.


Saúdo as cores
Que descobrem as arestas
Dos olhos de amores...
Saúdo a tela prazerosa de tons
E a seta onde o Cupido arde
Nos flertes que se casam ad infinitum...
Enternecido pelo brilho do olhar
Confessando a quem quer amar
Saúdo a quietude de um avatar
Refletido em porções de A(mar)
Azul cobalto, lânguido anil,
Olhares de paralelas transformadas,
Pelas linhas do pincel macio...


Mirtes Carvalho e Nina Araújo


sobre a obra:

"Saúdo a tela prazerosa de tons
E a seta onde o Cupido arde
Nos flertes que se casam ad infinitum...
Enternecido pelo brilho do olhar
Confessando a quem quer amar..."

autoria:Mirtes Carvalho e Nina Araújo

ficha técnica:

"...Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos.
E eu vou por que não, por que não..."

(Alegria, Alegria - Caetano Veloso)

OLHOS DE JABUTICABA

Quando meu olho enamora
Todo o meu corpo seduz
Espalha um brilho que denuncia
E a todo sentido reduz
Drena feito os moinhos de água
Em êxtases que não têm guia
Dá choques como uma enguia
E então insurge sem amarras
Destrambelha-se mostra as garras
Sentimentos que não se esfriam
Devora sem ter fidalguia
Emergindo toques e taras
E anda desnudo nas salas
Tentando compor heresias
Enquanto todo o corpo exala
Num alvoroço de dúbias vias
E como o estouro de manada
Como uma febre danada
Que molha a testa na pia
Ele mira-se em jabuticabas
Negras cores que agarra
Tentando prender este dia
Num espelho capturado
Num espectro de poesia...



Mirtes arvalho e Nina Araújo
[para ler o texto completo faça o download] sobre a obra
Um olho enamorado...ele....

“... anda desnudo nas salas

Tentando compor heresias

Enquanto todo o corpo exala

Num alvoroço de dúbias vias”



tags: Rio de Janeiro RJ poesia jabuticaba-olhos-parceria-charme-enamorado olhos

informações

Autoria Parceria de:
Mirtes Carvalho e Nina Araujo
Ficha Técnica "Dentro dos seus olhos
É um verso tão comum
É duro evitar o chavão
Quando se vive um-" (Olhos de Jabuticaba canta Lulu Santos)






Data 17/3/2009 16:48

A ÍRIS

Nos olhos da Iris calma
Muitas paisagens haviam
Paisagens como relâmpago
Nos olhos de quem as via
Os homens corriam ao largo
Sem ter nada a comprometer
O passo era controlado
Lânguido, tranquilo, quase parado
O sorriso multiplicado
Tentando não se conter
Caso houvesse serventia
Fosse de noite ou de dia
A Iris queria ver
Nos olhos da Iris calma
A grosseria era intimidada
A farpa catapultada
E o tédio se contorcia
Porque os olhos da Iris calma
Não abrigava a agonia

Mirtes Carvalho e Nina Araújo

sobre a obra:
Duas amigas e dois olhares distintos e semelhantes convergindo nas ondas da poesia...

Autoria :Mirtes Carvalho e Nina Araújo.

Ficha Técnica:

"A íris do olho de Deus tem muitos arcos
E há muitos barcos no mar
Se fugires - não fujas - te perderás"

(canção O Conteúdo de Caetano Veloso)